O setor de máquinas e implementos agrícolas deve crescer cerca de 4,6% ao ano até 2028, segundo a Mordor Intelligence. Se esse crescimento previsto já apresentava uma taxa acima do PIB, podemos considerar que esse número poderá ser positivamente impactado pela recente divulgação do programa Nova Indústria realizada pelo governo. Esse programa pretende injetar R$ 20 bilhões no setor de máquinas e implementos agrícolas visando priorizar a mecanização da agricultura familiar. Estima-se que somente 18% desses estabelecimentos são mecanizados e a meta é que essa taxa cresça substancialmente até 2033 atingindo 70%.
O potencial de crescimento desse mercado pode ser significativo. Segundo a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da ABIMAQ, existem 3 milhões de propriedades rurais cadastradas no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. Dessas, hoje, somente 17 mil têm condições de investir em mecanização. Portanto, será necessário que produtos sejam desenvolvidos e produzidos para atender a esse novo segmento. Se 10% desses 3 milhões se tornarem consumidores de equipamentos de mecanização, esse setor deverá apresentar significativo crescimento.
São números ambiciosos que poderão ser alcançados num ambiente mais favorável em termos de estabilidade fiscal e juros mais baixos, o que deverá viabilizar financiamentos e investimentos. Porém, temos desafios estruturais que devem ser considerados. Podemos mencionar a necessária eficiência na definição e aplicação dos recursos, a velocidade e a capacidade de absorção do setor, e também o alinhamento com políticas públicas de desenvolvimento rural sustentável e a necessidade de infraestrutura para esse crescimento. Todos esses são importantes pontos de atenção e análise que irão demandar algum tempo para serem operacionalizados tanto pelos órgãos governamentais quanto pelos setoriais. Tempo precioso para que as empresas planejem e se preparem adequadamente.
A avaliação detalhada de cada um desses pontos e a determinação do timing correto para que movimentos estratégicos sejam desencadeados fazem com que os sócios e executivos das empresas se debrucem sobre esse novo mapa, cujas fronteiras ainda precisam ser traçadas. Se trata de definir e operacionalizar estratégias, alocar recursos e priorizar investimentos.
Investimentos que se fazem necessários para adequação dos produtos a esse novo segmento de mercado, que demanda equipamentos mais leves, mais simples e de menor custo, tendo ainda como pré-requisitos que 95% dessas máquinas sejam produzidas nacionalmente.
Aliada a essa nova realidade, temos os já presentes desafios estratégicos que forçosamente devem ser enfrentados, como já apresentado no artigo anterior (Oportunidades para a indústria de máquinas e equipamentos agrícolas no Brasil), e que voltamos a ressaltar:
Como as empresas podem melhor aproveitar esse significativo potencial de crescimento, nessa nova fronteira mercadológica, tecnológica e gerencial?
Como as empresas de capital nacional podem potencializar sua competitividade, mesmo não dispondo do volume de capital para investimentos como as empresas globais?
Como desenvolver produtos e serviços que atendam a ampla diversidade dos produtores rurais brasileiros?
E essas questões crescem em relevância na medida que para atender um mercado mais maduro, consolidado e sofisticado, o vetor tecnológico tem de ser fomentado e desenvolvido. Ao mesmo tempo, o setor de agricultura familiar tem de ser atendido com produtos, serviços e soluções que se adequem às suas necessidades e limitações. Isso requer um movimento simultâneo de otimização e transformação. Otimização ao ritmo de implementação de novas tecnologias, que o mercado exige, e de transformação, onde produtos e serviços para um mercado mais básico têm de ser desenvolvidos.
Isso nos faz refletir sobre quais seriam os possíveis movimentos estratégicos que poderiam atender a essas demandas:
A busca de complementariedade de portfólio através de aquisições ou fusões com empresas do setor, ou mesmo através de parcerias com startups, seria uma estratégia viável para a sua empresa? Observe que o setor nacional de máquinas e equipamentos agrícolas deve crescer e registrar maior volume de operações de fusões e aquisições (M&A) nos próximos três anos, segundo estudo da Redirection International.
Um reposicionamento da empresa, reforçando o core business, revigorando a gestão e atualizando produtos e serviços para melhor atender a diversidade dos clientes, seria um movimento estratégico válido na sua visão? Considero essa como uma importante iniciativa para se adequar aos mercados já consolidados e também aos emergentes, como o da agricultura familiar.
Um redirecionamento dos investimentos focando inovação e tecnologia, seria um movimento que faria sentido para sua empresa? Isso proporcionaria o desenvolvimento e retenção de talentos para a criação de dispositivos e componentes digitais, que agregados aos produtos venham a proporcionar real vantagem competitiva, em termos de produtividade e sustentabilidade.
Outro movimento estratégico a ser considerado seria a expansão dos mercados através de novos produtos, serviços, canais e política de preços, dando suporte aos produtores rurais, tanto em treinamento, quanto em assessoria tecnológica. Essa também seria uma importante iniciativa a ser aplicada nos novos mercados que ainda não estão totalmente familiarizados com os novos equipamentos e tecnologias.
Sabemos que não existe uma receita única, ou uma solução redentora. Somente com uma análise detalhada de cada realidade se pode desenhar uma estratégia adequada para a transformação das empresas na direção do protagonismo dessa nova fase de desenvolvimento industrial.
Acreditamos que analisar e repensar estrategicamente o atual modelo de negócio proporcionará as condições adequadas para direcionar a organização no sentido de entrar em novos mercados, alavancar vendas e gerar mais receitas e margens. As oportunidades estão aí para serem aproveitadas e o tempo é agora!
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