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A Estratégia Brasileira na Vanguarda do Mercado de Bioinsumos

Atualizado: 25 de set.


A cada ciclo agrícola, uma verdade se consolida no cenário global: o futuro da produção de alimentos pende para o lado da biologia. Longe de ser uma mera tendência, a ascensão dos bioinsumos agrícolas representa uma reconfiguração do agronegócio, impulsionada por demandas crescentes por sustentabilidade, pressões regulatórias e a incessante busca por eficiência e resiliência, tudo isso em um contexto de eventos geopolíticos e geoeconômicos. Neste tabuleiro complexo, o Brasil não é um mero espectador; é um protagonista que pode reescrever as regras, solidificando sua posição como um epicentro de inovação e crescimento. Para empresas e estratégias empresariais, ignorar essa metamorfose é abdicar do futuro.


I. A Partitura Global: Cadências de Crescimento e Impulsos para a Transição Verde


O compasso global para o mercado de bioinsumos é de franca expansão. Em 2024, as vendas globais já orbitavam os US$ 14,08 bilhões, com uma projeção de crescimento de 15% anualmente, impulsionada majoritariamente pelos Estados Unidos e pelo próprio Brasil, de acordo com dados coletados pela Bizup. Se essa trajetória se mantiver, a expectativa é de que o mercado mundial atinja a impressionante marca de US$ 28,83 bilhões até 2029 e em 2030 terá ultrapassado os US$ 30 bilhões.


Essa expansão é multifacetada, com os biopesticidas liderando a composição global de produtos (63,9% em 2024), seguidos pelos biofertilizantes (20,2%) e bioestimulantes (16,0%). Os impulsionadores globais são claros: a busca por novas tecnologias, a escalada dos custos de produção, a robustez dos ecossistemas de P&D, a entrada de novos players com produtos diferenciados, os incentivos governamentais e uma regulamentação em evolução, além da crescente demanda e incorporação de práticas sustentáveis e a geração de demanda consciente por parte dos consumidores.


Paralelamente, a pressão internacional pela adoção de ações que mitiguem as mudanças climáticas e preservem a biodiversidade tem levado à valorização de práticas mais sustentáveis em todos os setores da economia. Por vezes essas ações são condições colocadas por certificadoras ou mercados consumidores. Essa tendência global é um vetor para a redução da dependência de insumos químicos convencionais. A crise dos fertilizantes químicos importados, por exemplo, evidenciou a fragilidade de cadeias de suprimento e impulsionou a busca por alternativas biológicas. Países como os da Europa e os Estados Unidos, embora com históricos regulatórios distintos, também caminham para a otimização do uso de defensivos, buscando equilíbrio entre produtividade e menor impacto ambiental.


II. A Sinfonia Brasileira: O Vigor Tropical da Inovação e a Quebra de Paradigmas


O Brasil, com sua vasta extensão agrícola, clima tropical e o dinamismo de suas culturas, não apenas acompanha, mas supera a média global de crescimento de bioinsumos. O país tem potencial para continuar a crescer a taxas superiores às mundiais. Estimativas indicam que o mercado de bioinsumos no Brasil, que deve atingir R$ 5 bilhões em 2025, tem potencial para saltar para R$ 15-20 bilhões em 2030. A taxa média anual de crescimento do setor no Brasil, nos últimos 3 anos, foi de 22%, quatro vezes acima da média global, conforme o documento VISÃO AGRÍCOLA. Piracicaba: ESALQ/USP, n. 15, 2025. Esses números podem variar em função de eventos, tais como impactos das taxações americanas no agro e o resto da cadeia, chegando até os produtores de insumos, mas a longo prazo o mercado se acomodará e reagirá, crescendo. 


A adoção no campo brasileiro é robusta e crescente. Na safra 2023/2024, a área tratada com bioinsumos cresceu 50% entre as safras 2021/2022 e 2023/2024, totalizando 156 milhões de hectares na safra 2024/2025, com uma taxa média de adoção pelos produtores de 26%. Agora o Brasil se destaca como o maior produtor e consumidor de agentes de biocontrole no mundo. Aproximadamente um quarto da área de produção brasileira já é tratada com bioinsumos, com a soja (62%), o milho (23%) e a cana-de-açúcar (10%) liderando a adoção.


A liderança brasileira é alicerçada em fatores históricos e estratégicos: 

  • Investimento em P&D: décadas de pesquisa em instituições como a Embrapa e universidades impulsionaram o desenvolvimento de tecnologia própria. O sucesso dos inoculantes, por exemplo, que geram uma economia anual estimada em US$ 17 bilhões em fertilizantes nitrogenados na soja, é um pilar dessa história, datando de estudos pioneiros em 1920 e a criação da primeira lista de cepas recomendadas em 1956. A inoculação com Azospirillum brasilense em milho já mostra potencial de redução de até US$ 15/ha e mitigação de 236 kg de CO2eq/ha.

  • Políticas Públicas de Fomento: iniciativas como o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB), criado em 2020, o Plano Safra, e o Plano ABC+, são exemplos claros de como o governo tem incentivado a produção e utilização desses insumos. A Rede de Inovação em Bioinsumos (RIB) e o programa Mais Inova Brasil da Finep também contribuem para o ecossistema de inovação.

  • Superação de Desafios: a forte dependência do Brasil de insumos externos (74% dos defensivos e mais de 70% dos fertilizantes importados) tem sido um motor para a busca e adoção de soluções locais e biológicas, impulsionando a resiliência agrícola nacional.

  • Casos de Sucesso Emblemáticos: o controle da lagarta Helicoverpa armigera em 2013, que levou ao registro emergencial de produtos à base de Bacillus thuringiensis e Baculovirus, foi um marco na consolidação da credibilidade dos biodefensivos (Resumo Revista ESALQ Bioinsumos, p. 12). O mercado de nematicidas biológicos superou o de químicos, representando 75% da fatia do mercado em 2022, com previsão de 97% na safra 2024/2025.


III. A Orquestração Regulatória: Marcos Nacionais e o Diálogo Global


A evolução do mercado de bioinsumos tem sido acompanhada de perto pela esfera regulatória. O Brasil, em particular, demonstrou protagonismo na adequação de sua legislação. A Lei nº 15.070, de 23 de dezembro de 2024 (Lei dos Bioinsumos), representa um marco fundamental, definindo bioinsumo como categoria própria e reconhecendo-o como alternativa sustentável de controle sanitário na agropecuária. Essa nova lei alcança todos os tipos de bioinsumos e sistemas de cultivo, simplifica o registro para produtos de baixo risco e permite o registro único para produtos com múltiplas funcionalidades. Importante destacar que a produção on farm (para uso próprio) foi dispensada de registro, mas não de controle de qualidade, um ponto crucial para a credibilidade do setor.


Essa legislação brasileira contrasta com modelos anteriores que, tanto no Brasil quanto na Europa e nos EUA, enquadravam os produtos biológicos sob o mesmo guarda-chuva dos defensivos e fertilizantes químicos, tornando o processo de registro complexo e demorado. O debate internacional sobre a regulação dos bioinsumos, no qual o Brasil está mais avançado, busca tratar o biológico de forma diferenciada, reconhecendo suas especificidades e funcionalidades múltiplas.


A narrativa geral aponta para uma clara tendência de busca por alternativas. O Pacto Verde Europeu e o pacote Climate-Smart Agriculture norte-americano criarão demanda adicional por bioinsumos, mesmo que com barreiras técnicas elevadas. Isso sugere uma intenção de mitigar os impactos ambientais da agricultura, impulsionando a adoção de biológicos como parte de uma estratégia de transição. A forte pressão internacional para a adoção de ações que mitiguem as mudanças climáticas contribui para que essa agenda se mantenha no topo das prioridades regulatórias, favorecendo os bioinsumos.


IV. Alavancas e Desafios: A Visão de Futuro e o Imperativo Estratégico


As projeções para o mercado brasileiro de bioinsumos são otimistas. É fato que o mercado oscila, por vezes bastante e para baixo, mas considerando o cenário moderado, prevê-se que o faturamento duplique em cinco anos, atingindo R$ 11,50 bilhões em 2030 (Bizup). Já no âmbito global, se houver a continuidade de CAGR, o faturamento mundial atingirá algo no valor de US$ 45 bilhões em 2032


Contudo, a perenidade desse crescimento não está isenta de desafios. A qualidade e sanidade dos produtos, o aumento de empresas e da produção on farm com baixo nível tecnológico, a necessidade de maior entendimento sobre as funcionalidades e benefícios dos bioinsumos, o desenvolvimento de formulações customizadas e a formação de massa crítica qualificada são pontos de atenção. A logística de frio e a distribuição em vastas distâncias, além da harmonização de critérios laboratoriais e a agilidade nos processos de patenteamento, são igualmente cruciais.


As oportunidades, por outro lado, são vastas:

  • Novas Fronteiras: Desenvolvimento de bioherbicidas, tecnologias de fermentação líquida/sólida para fungos, aumento da diversidade de organismos comercializados e seleção de agentes adaptados às mudanças climáticas

  • Inovação e Tecnologia: O uso de mais de um microrganismo em formulações (consórcios), produtos à base de metabólitos, bioencapsulamento, melhoramento genético de cepas via edição gênica (CRISPR), e a crescente aplicação de drones para liberação em larga escala de inimigos naturais.

  • Mercados de Alto Valor: Exploração de ganhos indiretos dos bioinsumos, como a fixação de carbono no solo, que pode ser explorada para criação de créditos de carbono.


V. Conclusão


Na nossa visão, a mensagem é um imperativo estratégico: a dinâmica atual do mercado de bioinsumos exige uma reavaliação constante e proativa das estratégias. 


Donos e CEOs de empresas de bioinsumos, a pergunta é direta: vocês estão prontos para jogar no ataque — ou vão assistir de camarote enquanto outros ocupam o espaço que poderia ser de vocês?


A mensagem é clara: o mercado não vai te esperar. A dinâmica dos bioinsumos exige reavaliação constante e ousadia estratégica.

Na Bizup, destacamos as alavancas inegociáveis para quem quer liderar, não apenas sobreviver:

  • Inovação: sem um pipeline robusto, tecnologias proprietárias e excelência regulatória, sua empresa será apenas mais uma.

  • Acesso ao Mercado: redes de distribuição inteligentes e parcerias estratégicas são o bilhete de entrada no jogo.

  • Geração de Demanda: quem não dominar a narrativa com marca forte e expertise técnico-comercial perderá a batalha pela mente do produtor.

  • Escala Operacional: consolidação e sinergias de custo vão separar os líderes dos seguidores conforme o mercado amadurece.


Mas nada disso funciona sem estratégia bem orquestrada: pessoas alinhadas, processos consistentes e disciplina de execução.

O futuro já está se desenhando. O mercado de bioinsumos vai se consolidar rapidamente, e o Brasil — com crescimento acima da média global — será palco e vitrine. Não é hora de observar, é hora de agir.


Quem dominar a inteligência sobre este bioma, dominará o mercado. Quem hesitar, será apenas espectador.


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